sábado, 17 de março de 2012

FEROMÔNIOS E QUÍMICA DA VISÃO



Os isômeros geométricos (cis e trans) diferem entre si principalmente em suas propriedades físicas, mas também em algumas propriedades químicas. Um fato de interesse biológico é que alguns desses isômeros podem apresentar comportamento fisiológico diferente. Existem vários exemplos desse comportamento, mas vamos nos limitar a dois casos de aplicação dessas propriedades. 

Feromônios

Os feromônios são compostos liberados por um animal para atrair outro da mesma espécie e de sexo oposto ou para demarcar territórios e são usados para manter comunicação entre animais da mesma espécie. Um dos tipos de feromônios são os atraentes sexuais de insetos, que facilitam sua reprodução. No entanto, essa capacidade de atrair sexualmente as fêmeas ou os machos pode ser utilizada também para controlar a disseminação de uma espécie. Um exemplo de atraente sexual secretado pelas fêmeas da mosca domestica é cis-9-tricoseno, cujo isômero trans não apresenta essa propriedade.


Uma das maneiras de dificultar a proliferação desses animais e produzir esse isômero em laboratório e usá-lo como isca para atrair as moscas machos para uma armadilha
 com a finalidade de livrar pomares brasileiros de maçã do inseto Cydia pomonella, existe um projeto da Embrapa, já em andamento nas cidades de Vacaria, Caxias do Sul, Bom Jesus (RS) e Lages (SC), utilizando feromônios. Nesse projeto usa-se o método de atrai-mata, em que as armadilhas tem uma mistura de feromônio e inseticida. 
No interior desta armadilha foi colocada uma amostra de feromônio sintético. Assim, os insetos são capturados e eliminados do meio ambiente sem a utilização de inseticidas.

O processo de controle apresenta muitas vantagens, tanto econômicas como ecológicas, pois é mais barato que os inseticidas e, além de não causar problemas ao meio ambiente, é inofensivo ao ser humano e a outros animais. 


A Região Sul do Brasil é grande exportadora de maçãs para a Europa e para os Estados Unidos. Pragas como a Cydia pomonella prejudicam a produção e a qualidade do produto

Química da visão

Já foi dito que, espontaneamente, não pode ocorrer rotação entre átomos unidos por uma dupla ligação. No entanto, tal rotação pode ocorrer se houver fornecimento de uma quantidade apropriada de energia na forma de calor ou de luz ou, ainda, por ação enzimática. Dessa maneira, podemos transformar um isômero cis em trans ou vice-versa, sendo esse processo chamado de isomerização cis-trans ou trans-cis. 

Em 1950, foi determinado que a química da visão esta baseada em um processo de isomerização cis-trans, isto é, na transformação do isômero cis em trans. Veja como ele ocorre: a retina do olho contém um material fotorreceptor chamado rodopsina, que e constituída por uma molécula de cis-11-retinal:



Essa molécula combina-se com uma proteína denominada opsina, formando a rodopsina. A rodopsina pode ser representada por:




Quando a rodopsina é atingida por um fóton de luz visível, ocorre a transformação do isômero cis em trans:



Devido a essa mudança estrutural, ocorre a emissão de um sinal elétrico, que é transportado pelo nervo óptico até o cérebro, e, simultaneamente, acontece a dissociação da rodopsina em opsina e em trans-11¬retinal. Esse isômero, livre, é convertido, por ação enzimática, novamente em cis-11-retinal, que, por sua vez, irá se ligar a opsina, originando a rodopsina e dando continuidade ao processo da visão. 
O retinal é derivado da vitamina A, o que explica a necessidade de certa quantidade dessa vitamina na alimentação para evitar problemas visuais, principalmente a cegueira noturna. Um alimento de origem animal que contém vitamina A é o fígado, mas ela pode ser produzida no organismo pela transformação do beta-caroteno, que é encontrado em cenouras, frutas e verduras.

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